Olá crianças do meu Brasil. Reformulamos nosso direcionamento para a questão da Teoria da Literatura. Leiam e comente, por favor.
Como referências bibliográficas usamos:
ABDALA JR, Benjamim. Literatura, História e Política. Ática,São Paulo.1989.
BAJARD, Elie. Ler e dizer. Cortez. 2001. 3ª ed.
CÂNDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. Cia. Editora Nacional. São Paulo. 1980. 6ª ed.
LUCAS, Fábio. Vanguarda, História e Ideologia da Literatura. Ícone, São Paulo.
MENESES, Adélia Bezerra de. Figuras do feminino na canção de Chico Buarque. Ateliê Editoral. São Paulo. 2001. 2ª ed.
PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. Ática. São Paulo. 1992. 4ª ed.
STAM, Robert. Da teoria literária à cultura de massa. Ática, São Paulo. 1992.
www.wikipedia.com.br
*********************************
De que maneira a Literatura (arte da palavra) integra as práticas cotidianas nos processos de comunicação?
A linguagem é uma das formas de apreensão do real, segundo Proença Filho em seu livro, “A Linguagem Literária”. O homem vive em permanente e complexa interação com a realidade e apreende diversas informações de várias maneiras. Mas ele precisa decifrar essas informações e transformá-la em signos, em sinais capazes de se obter algum significado.
“a linguagem e um conjunto complexo de processos, resultado de uma certa atividade psíquica profundamente determinada pela vida social que torna possível a aquiasição de uma língua qualquer.”
Lotmam, 1975, afirma que por linguagem entendemos todo o sistema de comunicação que utiliza signos organizados de um modo particular, ou seja, um conjunto organizado de informações entre seres humanos que tornam comum idéias, sentimentos, desejos etc, através de signos e da realidade que os cercam e utiliza-se do processo de comunicação proposto por Roman Jakobson que para estabelecer uma comunicação entre indivíduos, é necessária a existência de um emissor, um receptor e um canal por onde irá passar uma mensagem.
A literatura é uma forma de linguagem que tem uma língua como suporte. Essa arte está associada à idéia de estética. Um texto será literário quando conseguir produzir um efeito estético, quando proporcionar uma sensação de prazer e emoção no receptor.
O texto artístico busca empregar as palavras com liberdade. Para Louis de Bornald (pensador e crítico do séc. XIX): “A Literatura é a expressão da sociedade como a palavra é a expressão do homem”.
Para Afrânio Coutinho: “A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas (gêneros) com os quais toma corpo e nova realidade.”
E tudo isso é uma manifestação do Homem em estabelecer melhor seu sistema de comunicação. E de que forma a literatura e a comunicação têm a ver com a sociedade?
Ora, se a literatura é criação do homem e a comunicação segue o mesmo caminho, a fim de suprir suas necessidades de integração, ambas atuam no dinamismo da evolução do Homem e da sociedade e ambas podem tomar o mesmo rumo integrando as práticas cotidianas de uma sociedade e fortificando a palavra e a língua através de uma linguagem específica.
Tomamos como um forte exemplo música e principalmente a música popular brasileira, a MPB. Por trás da multiplicidade de definições sobre música, se encontra um verdadeiro fato social, que coloca em jogo tanto os critérios históricos, quanto os geográficos. A música passa tanto pelos símbolos de sua escritura (notação musical), como pelos sentidos que são atribuídos a seu valor afetivo ou emocional. É por isso que, no ocidente, nunca parou de se estender o fosso entre as músicas do ouvido (próximas da terra e do folclore e dotadas de uma certa espiritualidade) e as músicas do olho (marcadas pela escritura, pelo discurso).
O desenvolvimento da notação musical e a constituição artificial do sistema de temperamentos consolidou na música, o dualismo corpo-mente típico do racionalismo cartesiano. E de tal forma esse movimento se fortaleceu que mesmo a música popular ocidental, ainda que menos dualista, se rendeu à sistematização, na qual se mantém até hoje.
E a linguagem literária é que permeia e dá um novo sentido a essas músicas. No Brasil, um momento marcante é a MPB que surgiu exatamente em um momento de declínio da Bossa Nova. Gênero renovador na música brasileira surgido na segunda metade da década de 1950, foi influenciado pelo jazz norte-americano, a Bossa Nova e deu novas marcas ao samba tradicional. E essas músicas vêm dotadas de letras com grande literariedade.
Angélica
Chico Buarque
Que canta sempre esse estribilho
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Que canta sempre esse lamento
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Que canta sempre o mesmo arranjo
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Que canta como dobra um sino
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar
Entender o sofrimento de Angélica e a busca de sua felicidade, na verdade remete a uma figura: O filho. “ Quem é essa mulher/ Que canta sempre esse estribilho/ Só queria embalar meu filho/ Que mora na escuridão do mar”
A música foi inspirada em uma mulher que de fato sentiu essa dor e essa busca pela felicidade, Zuleika Angel (Zuzu Angel).
Há uma outra música de Chico Buarque que também poderia ser citada como complemento nessa face feminina, “Meu Guri” é nome dado a ela, a música relata a foto, de um menino morto, estampada na folha de um jornal e sua mãe inverte o sentido da morte e diz : “... O Guri no mato acho que ta rindo...”
O confronto dessas duas mulheres que perdem seus filhos recorta um quadro doloroso que coloca em questão a maternidade ferida.
Atrás da Porta
Chico Buarque
Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pelos, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua
A música de Chico Buarque traz um desenho interessante e nos remete ao topo do sofrimento da mulher sendo deixada pelo seu companheiro , no momento em que se diz na música: “... e me agarrei nos seus cabelos...”e assim ela vai caindo até chegar aos pés da cama, no chão no tapete atrás da porta e assim chega também aos pés do amado dizendo que ainda faz parte dele, está totalmente entregue. No momento da separação, quando se aniquila, e nada mais consegue senão provara q ela não se pertence, “... só pra provar que ainda sou tua...”. A busca da felicidade acontece no outro, a mulher esquece de si, e atropela todos os sentimentos e se humilha para que ele volte. Mas dentro da música de Chico Buarque acontece a retomada dessa mulher madura e mais vivida. Essa retomada acontece na música “Olhos nos olhos”, quando a letra diz que em outra fase ela já foi melhor amada e que está feliz. Nessa canção a mulher, em que, levantada do chão, e no mesmo nível que o homem (olhos nos olhos), busca a felicidade em si mesma, recupera a auto-estima e acredita no seu potencial feminino. A felicidade está nela e em suas qualidades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário