terça-feira, 20 de maio de 2008

Café com Letras

Olá, terráqueos

conseguimos terminar nossas pesquisas por disciplina, agora nesse final de semana, tentaremos organizar o artigo para já na semana que vem termos ele em mãos.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

CAFÉ COM LETRAS - TEORIA DA LITERATURA

Olá crianças do meu Brasil. Reformulamos nosso direcionamento para a questão da Teoria da Literatura. Leiam e comente, por favor.

Como referências bibliográficas usamos:

ABDALA JR, Benjamim. Literatura, História e Política. Ática,São Paulo.1989.

BAJARD, Elie. Ler e dizer. Cortez. 2001. 3ª ed.

CÂNDIDO, Antônio. Literatura e sociedade. Cia. Editora Nacional. São Paulo. 1980. 6ª ed.

LUCAS, Fábio. Vanguarda, História e Ideologia da Literatura. Ícone, São Paulo.

MENESES, Adélia Bezerra de. Figuras do feminino na canção de Chico Buarque. Ateliê Editoral. São Paulo. 2001. 2ª ed.

PROENÇA FILHO, Domício. A linguagem literária. Ática. São Paulo. 1992. 4ª ed.

STAM, Robert. Da teoria literária à cultura de massa. Ática, São Paulo. 1992.

www.wikipedia.com.br


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De que maneira a Literatura (arte da palavra) integra as práticas cotidianas nos processos de comunicação?


A linguagem é uma das formas de apreensão do real, segundo Proença Filho em seu livro, “A Linguagem Literária”. O homem vive em permanente e complexa interação com a realidade e apreende diversas informações de várias maneiras. Mas ele precisa decifrar essas informações e transformá-la em signos, em sinais capazes de se obter algum significado.

A linguagem ao converter a realidade em signo, ultrapassa as limitações da apreensão sensorial e permite uma “retirada de véus” do real em relação ao sujeito.

É também a faculdade que o homem tem de expressar seus estados mentais através de um conjunto de sons chamado língua( sistema de signos; conjunto de subsistemas que se interagem), ou seja, a linguagem é entendida como uma atitude que apresenta um aspecto psíquico (linguagem virtual) e um aspecto lingüístico (língua realizada). A língua pode ser entendida como uma realização de uma linguagem.

Para Tatiana Slama Casacu, 1961,

“a linguagem e um conjunto complexo de processos, resultado de uma certa atividade psíquica profundamente determinada pela vida social que torna possível a aquiasição de uma língua qualquer.”

Lotmam, 1975, afirma que por linguagem entendemos todo o sistema de comunicação que utiliza signos organizados de um modo particular, ou seja, um conjunto organizado de informações entre seres humanos que tornam comum idéias, sentimentos, desejos etc, através de signos e da realidade que os cercam e utiliza-se do processo de comunicação proposto por Roman Jakobson que para estabelecer uma comunicação entre indivíduos, é necessária a existência de um emissor, um receptor e um canal por onde irá passar uma mensagem.

A língua envolve uma dimensão social e se caracteriza por ser sistemática. Cada pessoa tem o seu ideal lingüístico. A língua coloca a disposição de cada um múltiplo repertório de possibilidades. E um desses recusos é a arte literária.

Entendemos por literatura a arte de compor escritos artísticos; o exercício da eloqüência. Vem do latim litterae (letras) e significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem e se relaciona com as artes da gramática.

A literatura é uma forma de linguagem que tem uma língua como suporte. Essa arte está associada à idéia de estética. Um texto será literário quando conseguir produzir um efeito estético, quando proporcionar uma sensação de prazer e emoção no receptor.

O texto artístico busca empregar as palavras com liberdade. Para Louis de Bornald (pensador e crítico do séc. XIX): “A Literatura é a expressão da sociedade como a palavra é a expressão do homem”.

Para Afrânio Coutinho: “A Literatura, como toda arte, é uma transfiguração do real, é a realidade recriada através do espírito do artista e retransmitida através da língua para as formas (gêneros) com os quais toma corpo e nova realidade.”

E tudo isso é uma manifestação do Homem em estabelecer melhor seu sistema de comunicação. E de que forma a literatura e a comunicação têm a ver com a sociedade?

Ora, se a literatura é criação do homem e a comunicação segue o mesmo caminho, a fim de suprir suas necessidades de integração, ambas atuam no dinamismo da evolução do Homem e da sociedade e ambas podem tomar o mesmo rumo integrando as práticas cotidianas de uma sociedade e fortificando a palavra e a língua através de uma linguagem específica.

Tomamos como um forte exemplo música e principalmente a música popular brasileira, a MPB. Por trás da multiplicidade de definições sobre música, se encontra um verdadeiro fato social, que coloca em jogo tanto os critérios históricos, quanto os geográficos. A música passa tanto pelos símbolos de sua escritura (notação musical), como pelos sentidos que são atribuídos a seu valor afetivo ou emocional. É por isso que, no ocidente, nunca parou de se estender o fosso entre as músicas do ouvido (próximas da terra e do folclore e dotadas de uma certa espiritualidade) e as músicas do olho (marcadas pela escritura, pelo discurso).

Nossos valores ocidentais privilegiam a autenticidade autoral e procuram inscrever a música dentro de uma história que a liga, através da escrita, à memória de um passado idealizado. As músicas não ocidentais, como a africana apelam mais ao imaginário, ao mito, à magia e fazem a ligação entre a potencialidade espiritual e corporal. O ouvinte desta música, bem como o da música folclórica ou popular ocidental participa diretamente da expressão do que ouve, através da dança ou do canto grupal, enquanto que um ouvinte de um concerto na tradição erudita assume uma atitude contemplativa que quase impede sua participação corporal, como se só a sua mente estivesse presente ao concerto.

O desenvolvimento da notação musical e a constituição artificial do sistema de temperamentos consolidou na música, o dualismo corpo-mente típico do racionalismo cartesiano. E de tal forma esse movimento se fortaleceu que mesmo a música popular ocidental, ainda que menos dualista, se rendeu à sistematização, na qual se mantém até hoje.

As práticas musicais não podem ser dissociadas do contexto cultural. Cada cultura possui seus próprios tipos de música totalmente diferentes em seus estilos, abordagens e concepções do que é a música e do papel que ela deve exercer na sociedade. Entre as diferenças estão: a maior propensão ao humano ou ao sagrado; a música funcional em oposição à música como arte; a concepção teatral do Concerto contra a participação festiva da música folclórica e muitas outras.

E a linguagem literária é que permeia e dá um novo sentido a essas músicas. No Brasil, um momento marcante é a MPB que surgiu exatamente em um momento de declínio da Bossa Nova. Gênero renovador na música brasileira surgido na segunda metade da década de 1950, foi influenciado pelo jazz norte-americano, a Bossa Nova e deu novas marcas ao samba tradicional. E essas músicas vêm dotadas de letras com grande literariedade.

A música está no cotidiano de todo ser humano e lhes apresenta combinações de palavras que assumem um tom poético ao falar sobre a natureza, a vida, o amor e a mulher. Faz o uso da conotação, uma das funções da linguagem, que aliada à função emotiva enriquece o sentido de cada palavra que garante à essa escrita, um tom de poesia.

Vejamos a forma poética de como a mulher é retratada nas músicas de Chico Buarque de Holanda, um dos maiores músicos e compositores da MPB.


Angélica

Chico Buarque

Quem é essa mulher

Que canta sempre esse estribilho

Só queria embalar meu filho

Que mora na escuridão do mar

Quem é essa mulher

Que canta sempre esse lamento

Só queria lembrar o tormento

Que fez o meu filho suspirar

Quem é essa mulher

Que canta sempre o mesmo arranjo

Só queria agasalhar meu anjo

E deixar seu corpo descansar

Quem é essa mulher

Que canta como dobra um sino

Queria cantar por meu menino

Que ele já não pode mais cantar

Entender o sofrimento de Angélica e a busca de sua felicidade, na verdade remete a uma figura: O filho. “ Quem é essa mulher/ Que canta sempre esse estribilho/ Só queria embalar meu filho/ Que mora na escuridão do mar”

A música foi inspirada em uma mulher que de fato sentiu essa dor e essa busca pela felicidade, Zuleika Angel (Zuzu Angel).

Esse é um tipo social comum que vive eternamente na história da vida humana, mães e filhos. A busca por filhos desaparecidos, ou filhos marginalizados e mães desesperadas com suas repentinas mortes trágicas em acidentes, brigas de ruas etc.

Há uma outra música de Chico Buarque que também poderia ser citada como complemento nessa face feminina, “Meu Guri” é nome dado a ela, a música relata a foto, de um menino morto, estampada na folha de um jornal e sua mãe inverte o sentido da morte e diz : “... O Guri no mato acho que ta rindo...”

O confronto dessas duas mulheres que perdem seus filhos recorta um quadro doloroso que coloca em questão a maternidade ferida.

Vejamos outra música, na qual Chico Buarque usa de todo lirismo e poesia ao retratar o sofrimento de uma separação:


Atrás da Porta

Chico Buarque


Quando olhaste bem nos olhos meus
E o teu olhar era de adeus
Juro que não acreditei, eu te estranhei
Me debrucei sobre teu corpo e duvidei
E me arrastei e te arranhei
E me agarrei nos teus cabelos
Nos teus pelos, teu pijama
Nos teus pés ao pé da cama
Sem carinho, sem coberta
No tapete atrás da porta
Reclamei baixinho
Dei pra maldizer o nosso lar
Pra sujar teu nome, te humilhar
E me vingar a qualquer preço
Te adorando pelo avesso
Pra mostrar que ainda sou tua


A música de Chico Buarque traz um desenho interessante e nos remete ao topo do sofrimento da mulher sendo deixada pelo seu companheiro , no momento em que se diz na música: “... e me agarrei nos seus cabelos...”e assim ela vai caindo até chegar aos pés da cama, no chão no tapete atrás da porta e assim chega também aos pés do amado dizendo que ainda faz parte dele, está totalmente entregue. No momento da separação, quando se aniquila, e nada mais consegue senão provara q ela não se pertence, “... só pra provar que ainda sou tua...”. A busca da felicidade acontece no outro, a mulher esquece de si, e atropela todos os sentimentos e se humilha para que ele volte. Mas dentro da música de Chico Buarque acontece a retomada dessa mulher madura e mais vivida. Essa retomada acontece na música “Olhos nos olhos”, quando a letra diz que em outra fase ela já foi melhor amada e que está feliz. Nessa canção a mulher, em que, levantada do chão, e no mesmo nível que o homem (olhos nos olhos), busca a felicidade em si mesma, recupera a auto-estima e acredita no seu potencial feminino. A felicidade está nela e em suas qualidades.

Com isso, percebemos o uso da linguagem literária, neste caso ao falar da mulher e seus diversos sentimentos e momentos nas músicas populares brasileiras que é um retrato da realidade e estão presentes no dia-a-dia da sociedade.